As preferências de padrão estético foram atualizadas
Você quer o que você quer, ou foi o Instagram que te disse para querer?
Por Flávia Caveagna (@flaviacaveagna)
Desde a adolescência, consumir informações sobre tudo referente à cultura pop se tornou um dos meus hobbies favoritos. Passava horas assistindo meus vjs prediletos na MTV, alugava muitas comédias românticas, e é claro que, como boa adolescente, a famosa revista Capricho era minha melhor amiga e confidente naquela época.
Admito que tenho uma nostalgia, que vez ou outra me faz soltar um “aquela época que era boa”, tal qual meu pai olhando para sua juventude; mas como em uma amizade juvenil em que você acredita cegamente em conselhos duvidosos de uma amiga que não sabe muito bem o que está falando, foi nas páginas da minha revista favorita que também aprendi como beijar na boca, o que os garotos almejavam na garota ideal e como garantir o corpo perfeito para o verão (sim, bizarro!). Sem que percebêssemos, matérias com “Fique magra” em letras destacadas eram absolutamente comuns para serem vendidas a uma adolescente. Sem contar outras diversas coisas decorrentes dos anos 2000 e que me fazem pensar “MEU DEUS QUE SURTO FOI ESSE???”
Como por exemplo, o fato de que a mídia nos fez acreditar que a Britney Spears no VMA de 2007 estava gorda demais para os padrões de uma diva pop. Além de estar passando por uma crise pessoal pesadíssima, a gata já tinha parido DOIS filhos, e queriam desesperadamente que ela tivesse o mesmo corpo de seus 17 anos. A atriz Alicia Silverstone, a icônica Cher de As Patricinhas de Beverly Hills, foi outra que sofreu muito com os ataques da mídia, principalmente quando estava em preparação para sua personagem em Batman e Robin, que chegou a chamá-la de FatGirl.
Isso definitivamente explica o fato de termos passado tanto tempo com nosso conceito de auto imagem deturpado. Sinais desses movimentos também existem no mundo da moda, em itens como a polêmica calça de cintura baixa que se tornou muito popular, e destacava a magreza de quem a vestia. Muitas mulheres, inclusive, até hoje ainda não conseguiram se desprender totalmente das inseguranças adquiridas.
Nessa época (que se você pensar nem faz tanto tempo assim), não tínhamos consciência da problemática por trás de todo ataque que a mídia fazia, e não existia nem sombra de discursos body positive quando folheamos as páginas das revistas.
Hoje, aparentemente, conseguimos perceber esse discurso cruel com muito mais facilidade. Ficou fácil perceber quando uma capa de revista, ou manchete de portal de notícias, está nos vendendo um padrão de forma descarada em sua narrativa. Então, o discurso passou a ser muito mais nas entrelinhas. O padrão, não mais imposto pelas revistas, agora está nas mãos das redes sociais. A internet passa a ideia de proximidade com quem está do outro lado da tela, e é quase que involuntário pensar: “se essa pessoa tão real consegue, eu também consigo”. É fácil ser criteriosa com matérias de revistas, mas será que somos capazes de distinguir esses truques de imagem quando produzidos por nossas iguais?
No maravilhoso mundo das redes sociais, as pessoas não possuem linhas, poros e rugas aparentes, e se tornou comum ver pessoas de nosso convívio aderindo a procedimentos estéticos para melhorarem o que já estava bom. O padrão é atualizado incansavelmente para que nunca seja atingido e empresas continuem lucrando em cima da insatisfação. Como se estivéssemos nos tornando uma espécie de gadget, buscando por otimização e atualização constante, sempre almejando por novas e melhoradas versões de nós mesmos. De fato, a felicidade não faz bem à economia, sendo assim, somos sempre levados a estar um pouco insatisfeitos.
Milhares de mulheres afinando seus narizes, preenchendo suas bocas e harmonizando todo o resto, para que daqui alguns meses a tendência seja exatamente o contrário. Assim como aconteceu com a tendência da sobrancelha fina nos anos 90, onde várias garotas afinaram suas sobrancelhas para se encaixarem na estética da época, mas que provavelmente muitas se arrependem amargamente dessa decisão. Algo que parece inofensivo perto da busca por procedimentos estéticos que aumentou dramaticamente nos últimos anos. Procedimentos esses que, antes eram feitos em pessoas geralmente com 40+, e hoje cerca de 80% das pessoas entre 18 e 25 anos desejam modificar alguma característica física. Haja vista a própria família Kardashian, principais embaixadoras das intervenções estéticas do planeta Terra, que foram responsáveis por popularizar o Brazilian Butt Lift (ou BBL, chamado popularmente), procedimento onde é utilizada a própria gordura do paciente para aumentar o glúteo, e agora a família simplesmente retirou suas próteses para aderirem a um visual mais “natural”. A regra parece clara: o padrão de beleza não foi feito para ser atingido. “Se popularizou é hora de mudar”, e seguiremos como um hamster girando na roda infinitamente.
Bom, isso tudo para dizer que: definitivamente, não é sua culpa se você olha no espelho e não se sente 100% satisfeita com o que vê. Não vejo nada de errado em recorrer à ciência, medicina e a estética, desde que você tenha total consciência do porquê você busca por alterações. Será que você quer mesmo, ou apenas te venderam de que você PRECISA ter para se sentir feliz e adequada em meio aos demais? Muitas vezes, ao não se sentir bem do jeito que somos, o que temos de fazer é tratar o sentimento, e não a aparência física.
E se eu pudesse lhe dar um conselho final seria: não permita que nada, nem ninguém, a faça sentir como se não fosse o bastante. Há uma grande estrutura por trás operando para que você se sinta incompleta.